A produção total, que era estimada em 2.520 mil unidades (alta de 25% sobre 2020), foi reduzida para 2.463 mil (alta de 22% sobre o ano passado).

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Por: Gladis Berlato

Entre 100 e 120 mil veículos automotivos deixaram de ser produzidos no Brasil, no primeiro semestre, por falta de semicondutores vindos da China. O fato, que paralisou as linhas de produção das fábricas de automóveis, ônibus e caminhões do planeta, expôs a fragilidade das nações despreparadas para tamanho impacto em suas economias. As informações são da Trends CE e texto de Gladis Berlato

Ainda que a indústria brasileira de veículos esteja recuperando as perdas, a luz vermelha foi acesa, mostrando a necessidade do Brasil, em seu imenso território, de ter uma produção própria desses materiais, usados em todos os componentes eletrônicos que integram inúmeras atividades e que também foram impactadas.

É o que defende a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (ANFAVEA), a exemplo do que estão fazendo os governos dos Estados Unidos e Alemanha. O Brasil, entretanto, segue na contramão e acaba de fechar o Centro Nacional de Tecnologia Avançada (CEITEC), com sede em Porto Alegre (RS), único fabricante de chips para semicondutores da América Latina.

Exatamente por conta da falta deste componente, o fechamento dos negócios de veículos automotores, no primeiro semestre de 2021, foi um pouco abaixo da estimativa da ANFAVEA. Foram montados 1.148,5 mil automóveis de janeiro a junho deste ano, 57,5% a mais que os 729 mil do mesmo período do ano passado, quando todas as fábricas passaram por paradas de até dois meses. Quando a comparação é feita sobre o primeiro semestre de 2019 (antes da pandemia), houve uma retração de mais de 300 mil unidades, ou 22%.

Segundo o presidente, Luiz Carlos Moraes, as melhores notícias continuam vindo do setor de caminhões, favorecido pelo bom desempenho do agronegócio e do e-commerce, e a despeito de problemas pontuais com insumos. A produção de 74,7 mil unidades, no primeiro semestre, é a melhor para o período desde 2014, da mesma forma que as 58,7 mil unidades licenciadas de janeiro a junho. “Projeções são revistas, mas o cenário ainda é nebuloso”, comentou.

Com a performance negativa dos automóveis e o desempenho surpreendente do segmento de caminhões, a ANFAVEA atualizou as projeções que havia apresentado em janeiro, referentes ao fechamento de 2021. A produção total, que era estimada em 2.520 mil unidades (alta de 25% sobre 2020), foi reduzida para 2.463 mil (alta de 22% sobre o ano passado).

Separando leves e pesados, a alta na produção estimada 2021/2020 caiu de 25% para 21% no segmento de automóveis e comerciais leves, e subiu de 23% para 42% no caso de caminhões e ônibus.

Nas vendas internas, a expectativa agora é de 2.320 mil licenciamentos (elevação de 13% sobre o ano anterior), ante os 2.367 mil previstos em janeiro. Automóveis foram revistos para baixo, enquanto comerciais leves, caminhões e ônibus foram revistos para cima.

No mercado externo, as estimativas também foram revisadas de 353 mil para 389 mil na expectativa do ano, uma esperada alta de 20% sobre 2020, melhor que a elevação de 9% inicialmente projetada. “Além das variáveis socioeconômicas, agora temos também de levar em conta a situação da pandemia, o ritmo da vacinação, a instabilidade política e essa crise global dos semicondutores, sobre a qual pouco podemos antever”, acrescentou Moraes, ressaltando que uma possível restrição de fornecimento de energia elétrica não entrou nos cálculos da entidade.

“Essa situação dos semicondutores traz uma enorme imprevisibilidade para o desempenho da indústria no restante do ano. Em um cenário normal, estaríamos produzindo num ritmo acelerado nesta época do ano, quando as vendas geralmente ficam mais aquecidas”, afirmou o presidente Luiz Carlos Moraes.

“No ano passado, tínhamos boa produção no segundo semestre, mas uma demanda imprevisível em função da pandemia. Neste ano, temos a volta da demanda, mas infelizmente, uma quebra considerável na produção”, disse Luiz Carlos Moraes, presidente da ANFAVEA.

Autopeças

Dados da Pesquisa Conjuntural, feita mensalmente com 63 empresas associadas ao Sindicato Nacional da Indústria de Componentes para Veículos Automotores (Sindipeças), que representam 38,4% das vendas totais do setor no Brasil, o faturamento líquido nominal do segmento de autopeças, no primeiro semestre, cresceu mais de 90% sobre de igual período de 2020. Mas os impactos da pandemia, principalmente nos meses de março a junho do ano passado, deformam a comparação, que se dá sobre base muito baixa.

O presidente Dan Ioschpe entende que o ritmo de recuperação do setor de autopeças após o período mais crítico da pandemia, que já havia se iniciado no segundo semestre do ano passado, sofreu o impacto com a falta mundial de semicondutores, gerando crise de oferta de produtos. E estima que a normalização no fornecimento comece a ocorrer ainda este ano e atinja a normalidade em 2022. “O desempenho de nosso setor este ano depende desse movimento e também do necessário estado de equilíbrio e tranquilidade institucional”, comentou.

“Estamos otimistas, mas é preciso ver como se comportará a crise da falta de semicondutores e a confiança do consumidor nos próximos meses”, afirma Ioschpe.

A expectativa de Rodrigo Carneiro, presidente da Associação Nacional dos Distribuidores de Autopeças, em relação ao desabastecimento, é idêntica. Ele entende que a área de reposição – responsável por 80% da manutenção da frota circulante, estimada em mais de 45 milhões de veículos – é bastante resiliente em crises e que a situação deve se normalizar totalmente até os primeiros meses de 2022.

“Ficou um gap entre produção e demanda. Isso leva um tempo para se restabelecer, o que é natural em uma condição tão diferente como a que estamos vivendo este ano. A boa notícia é que o mercado não parou na pandemia. As oficinas continuaram atendendo, o que refletiu positivamente em todos os elos da cadeia produtiva, ao contrário de setores que pararam por completo. Insisto em afirmar que, mesmo assim, a Distribuição conseguiu, com sacrifício de estoques reguladores e margens, manter a frota brasileira de veículos”, concluiu Rodrigo Carneiro, presidente da Associação Nacional dos Distribuidores de Autopeças

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