Avaliação: qualidade ou reprovação? Por Prof. Oleilson Targino de Almeida

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O final do ano letivo de 2021 se aproxima e, mesmo impossibilitado em decorrência de uma cirurgia para implante de uma prótese no joelho, recebo mensagens de alunos perguntando sobre as avaliações finais. Professor eu já passei? Será que vou passar? Vou ficar reprovado? Mensagens que desnudam o estresse e a preocupação de nossos alunos com as avaliações e as reprovações.

Vivemos períodos de grandes tragédias. Tragédias da pandemia, da violência, da fome, do desemprego, da inflação alta, dos quase dois anos com escolas fechadas e da evasão escolar. Momentos tenebrosos que nos levam a uma reflexão mais humanizada e crítica de nossas ações e práticas pedagógicas.

Em todos esses anos de magistério, venho pesquisando e aprimorando os conhecimentos sobre as avaliações. Ela se transforma em insônia, tormento e pesadelo para alunos, pais, professores e núcleo gestor. Sempre escutei professores falarem que já preparam suas avaliações, mesmo sem critério e com um pré-julgamento sobre os alunos. É comum ouvir: “Estes alunos são bons; “alunos tais são fracos; não gosto de aluno tal; aqueles alunos são indisciplinados; vou reprovar a metade da sala, entre outros termos“.

Termos embasados numa avaliação escolar limitada pela hipertrofia que o processo de atribuir notas e conceitos são implantadas na administração escolar. Não fazemos uma análise aprofundada dos nossos alunos, não observamos que cada aluno tem sua forma e tempo de desenvolver seus conhecimentos, não nos preocupamos com as condições sociais e familiares, desqualificamos os conhecimentos prévios adquiridos na família e na comunidade e nem consideramos seus avanços e dificuldades. Definir notas ou conceitos às características físicas ou comportamentais de nossos alunos representa verdadeiro tribunal da inquisição e abre caminho para o preconceito, a exclusão e a reprovação automática e antecipada.

A avaliação se faz presente no cotidiano das atividades humanas com comparações, análises e reflexões formais e informais. A avaliação de nossos alunos não acontece de forma isolada do trabalho pedagógico, ela tem como dimensão a análise do desempenho do aluno, do professor e de todo o ensino que se realiza no contexto escolar. Sua principal função é subsidiar o professor e a equipe escolar no desenvolvimento cognitivo dos alunos como um todo.

Devemos ter propósitos em nossas práticas avaliativas, precisamos acabar com avaliações da tábula rasa, é necessário a análise dos problemas que nossos alunos enfrentam no seu dia-a-dia, devemos ter a humildade crítica de nosso processo de ensino-aprendizagem como forma de alcançar nossos objetivos pedagógicos. Como diz a professora Regina Sordi “Uma avaliação espelha um juízo de valor, uma dada concepção de mundo e de educação, por isso vem impregnada de um olhar absolutamente intencional que revela quem é o educador quando interpreta os eventos da cena pedagógica”. Em nossa condição de professor avaliador de atribuir significados e sentidos ao desenvolvimento pedagógico de nossos alunos, devemos questionar nossas metodologias avaliativas.

Vamos continuar com nossas práticas pedagógicas de examinar para avaliar através de exames e provas, praticas dos jesuítas desde o século XVI e aplicadas até os dias atuais? Devemos medir para avaliar com testes padronizados para medir habilidades e aptidões dos alunos, pratica dos Estados Unidos do início do século XX e no Brasil dos dias atuais? Ou é melhor avaliar para classificar ou regular através da avaliação tradicional associada a hierarquia burocrática que empobrece a aprendizagem, onde os alunos são preparados e classificados para o mercado de trabalho, com nota e certificado sem gerar conhecimentos?

Não devemos descartar as práticas pedagógicas dos questionamentos acima levantados, mas devemos trabalhar uma avaliação para qualificar, uma avaliação emancipadora, democrática, institucional, coletiva e participativa, uma avaliação que incorpora conjuntos e técnicas, orientações e estudos da cultura e comportamentos sociais da comunidade escola, uma avaliação centrada em processos que evoluem e transformam o conhecimento do aluno, uma avaliação que seja parte de um processo maior, tanto no acompanhamento e desenvolvimento do aluno, como numa apreciação do aluno com vistas ao futuro.

Ao longo de um processo avaliativo qualificado os alunos se qualificam, os pais agradecem, os professores se realizam, o núcleo gestor se sente com o dever cumprido e a comunidade se desenvolvem e progride.

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