Por Pedro Henrique Sampaio*
As consequências da pandemia de covid-19 no mundo, para além da tragédia humanitária com a perda de milhões de vidas, podem ser sentidas em diferentes dimensões. Na educação, não foi diferente, pois estudos nacionais e internacionais sugerem quatro efeitos, sobretudo nas redes públicas de ensino: (I) perda de aprendizado; (I) aumento das desigualdades de aprendizado; (III) aumento do abandono escolar; e (IV) impactos negativos no bem-estar e na saúde mental.
Farei uma breve análise, neste momento, dos efeitos (I) e (II) supracitados no contexto do Ceará e, em especial, na área de abrangência da Coordenadoria Regional de Desenvolvimento da Educação – CREDE 9, com um recorte do Ensino Médio. De modo geral, podemos observar que as ações desenvolvidas de “ensino remoto’’ durante o período pandêmico repercutiram positivamente para a redução destes impactos. Sobremaneira no abandono escolar, dados do Censo 2020 e 2021 apontam que não houve na regional este aumento apontado pelos pesquisadores no contexto geral.
Em boa medida, esses resultados se explicam pela conjugação de esforços desde uma normatização mais acolhedora com os Pareceres do Conselho Estadual de Educação –CEE, ações de Busca Ativa com papel relevante dos Professores Diretores de Turma e Monitores da Busca Ativa, estes últimos atores são jovens selecionados pelas escolas que receberam uma bolsa para desenvolver iniciativas de busca e de motivação à permanência de alunos infrequentes.
Contudo, quando observamos as perdas de aprendizagem, e aqui vamos nos deter somente aos aspetos referentes às avaliações externas 2 , identificamos grandes desafios como sugerem os estudos. Dados do Sistema de Avaliação da Educação Básica – SAEB 2021, apontam que no Brasil houve queda de desempenho dos alunos nos diferentes níveis, fruto do impacto da Covid-19 no Ensino Médio, que majoritariamente é ofertado pelos Estados. Tivemos, a nível nacional em Matemática, uma redução de 7 pontos na escala SAEB em relação a 2019; e em Língua Portuguesa uma queda de 3 pontos na proficiência. Cabe registrar a queda na participação, que atingiu 61,4% entre alunos da 3ª série do Ensino Médio, a qual foi de 75,6% na edição de 2019. No Ceará, identificamos no SAEB 2021 um declínio de 3,11 pontos em matemática do 3º ano do Ensino Médio e 0,64 pontos em língua portuguesa em relação a 2019.
Entretanto, são os dados do Sistema Permanente de Avaliação da Educação Básica do Ceará – SPAECE – que foi retomado em 2022 após o período de pandemia, que nos provocam e animam ao mesmo tempo, posto que seguem a tendência de queda da avaliação nacional de 2021, mas sugerem uma vigorosa capacidade de recuperação dentro das estratégias de recomposição do Pacto Pela Recomposição das Aprendizagens lançado pelo Governo do Ceará ano passado, quando observado o perfil de entrada dos estudantes.
Em 2022, de forma inédita, o Ceará aplicou duas versões do Sistema Permanente de Avaliação da Educação Básica do Ceará – SPAECE: uma em março de 2022, de caráter diagnóstico 2022.1 e outra de saída no final do ano 2022.2. Os resultados apontam desafios quando comparados aos resultados pré-pandemia em 2019, mas, observado o perfil de entrada, demonstram a capacidade de recomposição das aprendizagens pela rede pública cearense.
No Ceará, os dados de saída (2022.2) apontam uma leve queda de 0,6 na proficiência de Matemática em relação ao SPAECE 2019 e 1,6 em Língua Portuguesa. Já no contexto regional, observamos um crescimento de 7,4 pontos em Matemática e de 4,4 em Língua Portuguesa. Quando comparamos o dado de entrada do aluno avaliado em 2022.1 e observamos sua saída em 2022.2, a nível estadual, o crescimento em Matemática é de 3 pontos e 8,8 em Língua Portuguesa. Com essa mesma análise aplicada à CREDE 9, temos um crescimento respectivo de 16,5 e 8 pontos.
Portanto, somos sabedores dos desafios de seguir avançando na melhoria da aprendizagem de nossos estudantes e dos impactos da pandemia na vida destes e no contexto educacional, mas nossos resultados demonstram que, quando há engajamento, investimento e compromisso de todos os atores envolvidos, somos capazes de alcançar uma melhoria contínua da educação cearense, agregue-se a este movimento o compromisso do atual governo de implantar até 2026 o Ensino Médio em tempo integral em toda a rede. Considerando, pois, essa conjuntura, tenho certeza de que dias melhores virão.
*Pedro Henrique Sampaio é Mestre em Gestão e Avaliação da Educação Pública-UFJF. Atualmente, exerce a função de Coordenador Coordenadoria Regional de Desenvolvimento da Educação – CREDE 9 em Horizonte,-Ceará – Secretaria da Educação Básica do Ceará – SEDUC-CE.