Juros altos movimentam títulos de dívida corporativa

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No último dia 15, o Comitê de Política Monetária (COPOM) aumentou novamente a taxa básica de juros da economia. Foi o décimo primeiro aumento consecutivo, e levou os juros de 12,75% para 13,25% ao ano, com perspectiva de novos aumentos nas próximas reuniões do COPOM.
Os juros mais altos favorecem os investimentos de renda fixa, aqueles cujo prazo, rendimento e condições de pagamento são conhecidos desde o momento da aplicação.

Não por acaso, os fundos de renda fixa tiveram, no primeiro trimestre, a maior captação líquida para esse período nos últimos cinco anos. Com destaque para as debêntures, títulos emitidos pelas empresas privadas.

 

Os juros mais altos tornam mais atraentes as aplicações de renda fixa, por uma razão fundamental: a segurança. Em momentos de incerteza, com inflação insistente e crescimento baixo, esse tipo de aplicação é uma opção natural para a proteção do patrimônio. E afinal, a subida dos juros modifica a relação risco-retorno desses investimentos, aumentando o retorno.

 

Existe uma grande variedade de aplicações de renda fixa disponível no mercado. Uma consulta rápida ao site do Tesouro Direto, mostra as opções de títulos públicos do Tesouro Nacional. Mas há também as opções oferecidas pelo sistema bancário, como os conhecidos Certificados de Depósitos Bancários (CDBs) e os títulos da dívida corporativa, como é o caso das debêntures.

De acordo com a Comissão de Valores Mobiliários, entre os países emergentes, o Brasil apresenta um dos maiores mercados para a dívida privada ou corporativa. As debêntures e os certificados de recebíveis imobiliários ou do agronegócio são uma fonte importante de recursos para as companhias brasileiras. Eles são utilizados para diminuir a dependência do crédito bancário, conferindo segurança nos momentos em que diminui o apetite dos bancos pelas operações de crédito.

O mercado de dívida corporativa brasileiro tem bom potencial de crescimento. Nas economias desenvolvidas, chega a atingir 170% do Produto Interno Bruto, no Brasil, permanece no patamar de 40%, segundo a CVM.

 

Captações em alta e desinflação lenta

 

Em 2022, as debêntures tiveram a maior captação para um primeiro trimestre desde 2012, segundo dados da ANBIMA.

Para o economista do Grupo Euro17, Lucio Silva, “as emissões de debêntures são capitaneadas pelas empresas com planos de investimento de mais longo prazo, aquelas que desejam preservar recursos em caixa, ou que encontram maior dificuldade de captação no exterior, dado o momento atual de grande incerteza. Existe demanda por esses títulos porque os rendimentos são atraentes”.

 

O movimento em direção à renda fixa deve continuar, já que a perspectiva é de que os juros permaneçam em patamar elevado por mais algum tempo. Ocorre que os fatores que pressionam a inflação ainda estão muito presentes: o preço do petróleo e dos alimentos continua elevado, as cadeias produtivas ainda não se reorganizaram completamente, e há o componente inercial na inflação brasileira.

 

O preço das commodities agrícolas e minerais, dentre as quais estão os grãos e o petróleo, já estava em nível elevado há algum tempo, quando irrompeu a guerra Rússia-Ucrânia, que intensificou esse processo.
No mundo, os países ainda estão reorganizando suas cadeias produtivas, depois que a pandemia suspendeu ou desfez muitas conexões entre fornecedores e produtores, o que aumenta o custo dos produtos industrializados.

“No Brasil, a memória inflacionária faz com que, em momentos como esse, diante da incerteza, os produtores tentem se proteger aumentando seus preços. A consequência é um aumento da inércia inflacionária”, explica o economista do Grupo Euro17, Lucio Silva.