Por Ricardo Cavalcante*
O processo de transição energética em curso no mundo inteiro abre uma janela de oportunidades sociais e econômicas sem precedentes para o Nordeste. A corrida global pela descarbonização do planeta encontra em nossa região o ambiente adequado à necessária geração de energia limpa.
Os ventos sopram a nosso favor com grande regularidade e elevada produtividade o ano inteiro. Sobre nós incide o maior índice de radiação solar do país e um dos maiores do mundo. E com o diferencial de os dois, vento e sol, poderem estar no mesmo local e de forma complementar nos diferentes momentos do dia.
Somos, portanto, um território propício à geração de energia eólica e fotovoltaica a um custo mais baixo, fator essencial para uma produção mais competitiva do hidrogênio verde, hoje considerado o combustível do futuro.
Outro diferencial do Nordeste está na extensa rede de linhas de transmissão e na infraestrutura portuária que construímos ao longo das últimas décadas, fatores que alargam ainda mais os nossos horizontes de oportunidades.
Fruto dessa atitude proativa, em pouco mais de três anos, de 2019 para 2022, nós passamos da condição de importadores para exportadores de energia para o resto do país. E isto é só o começo, pois acreditamos que, diante de tudo o que estamos fazendo, da seriedade com que encaramos os desafios, da forma colaborativa como temos trabalhado, a grande revolução ainda está por vir.
Ouso dizer que nos próximos anos o Nordeste vivenciará um momento de inflexão positiva, que promete transformar definitivamente o modo de ser e de viver da nossa população, em especial das pessoas mais simples, que habitam as pequenas cidades do interior, onde a pobreza impera, o sol arde mais forte, e a cada novo dia uma nova usina de energia eólica ou solar haverá de nascer.
Ao longo da extensa cadeia produtiva das energias renováveis, milhares de novos empregos serão criados, novos produtos e serviços serão demandados, novos conhecimentos e aprendizados gerados. Todos esses vetores haverão de agregar ainda mais valor às economias locais, contribuindo decisivamente para a melhoria da qualidade de vida das populações e promovendo cidadania de forma ampla e sustentável onde ela mais se faz necessária.
Nesse novo paradigma de convivência, todos sairão ganhando. Os governos, em suas três esferas – municipal, estadual e federal –, irão arrecadar mais e com isso poderão oferecer melhores serviços para a população; as instituições de ensino e pesquisa irão formar melhores profissionais e desenvolver mais ciência aplicada com foco na inovação; os setores produtivos ampliarão suas participações nos múltiplos mercados, o que lhes permitirá gerar melhores empregos com oferta de salários mais dignos.
Ainda existem desafios por superar. Precisamos encontrar soluções que permitam a redução dos custos de produção de energia eólica e solar, de modo a tornarmos produção de hidrogênio verde mais barata. Também precisamos trabalhar no desenvolvimento da energia eólica no mar, e na efetivação dos marcos regulatórios correspondentes. E para fortalecer ainda mais o desenvolvimento regional e suprir de forma adequada os hubs de hidrogênio verde no Nordeste, precisamos ampliar as linhas de transmissão, de modo a permitir a transferência de energia entre as demais regiões do país.
Para além de tudo isso, o Nordeste nunca teve uma oportunidade tão grande de transformar definitivamente a sua realidade como agora.
Portanto, consciente das nossas competências, da nossa capacidade criativa, e diante das potencialidades que latejam sobre o nosso território, conclamo todos os nordestinos a nos unirmos em um círculo virtuoso, para aproveitarmos essa oportunidade histórica.
Vamos fazer valer a inteligência e a força de trabalho do nosso povo!
* Ricardo Cavalcante é Presidente da FIEC e Presidente da Associação Nordeste Forte