Ministro admite que governo não contratou quantidade de vacinas anunciada

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Em depoimento à CPI da Pandemia nesta quinta-feira (6 de maio), o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, admitiu que foi divulgado um número superestimado de vacinas já contratadas contra a covid-19. Em peças de propaganda, a pasta dizia ter comprado mais de 560 milhões de doses.

Ao responder a um questionamento oficial formulado pelo deputado federal Gustavo Fruet (PDT-PR), porém, o ministério informou nesta semana que o número realmente contratado era a metade disso: 280 milhões de doses. O relator da CPI da Pandemia, Renan Calheiros (MDB-AL), apontou o desencontro. Diante dos senadores, Queiroga apresentou novos números e afirmou que há 430 milhões de doses de vacinas contratadas, dado que não inclui doses da Fiocruz.

— Não há um contrato entre a Fiocruz e o Ministério da Saúde. E essas doses da Fiocruz não foram ali consideradas. De tal maneira que o Ministério da Saúde já vai fazer uma retificação dessa informação que foi prestada de maneira imprecisa à Câmara dos Deputados — disse o ministro.

“Juízo de valor”

Questionado sobre outros temas, como o uso de cloroquina, declarações de Bolsonaro e ações de gestões anteriores, Queiroga evitou responder diretamente e alegou não poder fazer “juízo de valor”. Essa resposta foi a mais recorrente durante a reunião desta quinta-feira, iniciada pouco depois da 10h. Em relação à vacinação, contudo, o ministro foi taxativo:

— A vacina contra a covid é uma resposta da ciência. A solução para a pandemia é a campanha de vacinação. Precisamos vacinar a nossa população — declarou Queiroga.

Sobre a recusa do governo em assinar contrato com a Pfizer em agosto do ano passado, o ministro afirmou que não poderia falar sobre tratativas de uma gestão anterior.

— Eu assumi [o Ministério da Saúde] há 45 dias e esses acordos não foram firmados na minha gestão. Não tenho como precisar se houve demora, porque não participei dessas negociações — disse.

Queiroga afirmou que o governo tem um contrato na iminência de ser assinado para aquisição de 100 milhões de doses de vacinas da Pfizer, sendo que 35 milhões devem chegar em setembro.

Eduardo Braga (MDB-AM) cobrou um cronograma definitivo da vacinação no país. “Já ouvimos inúmeras previsões não correspondidas”, ressaltou o senador.

Convocado na condição de testemunha, o ministro também argumentou que as críticas de Bolsonaro sobre as vacinas não tiveram impacto na campanha de imunização.

— Eu penso que [as críticas do presidente] não têm impacto na campanha de vacinação. Pesquisas mostram que mais de 85% da população brasileira quer a vacinação. Fazer juízo de valor acerca do que o presidente fala não é uma competência do ministro da Saúde.

Queiroga fez esse comentário em resposta a Renan Calheiros, que lembrou de episódio em que Bolsonaro disse que o laboratório não se responsabilizaria caso alguém se transformasse “em jacaré”.

Em resposta a questionamentos dos senadores Marcos Rogério (DEM-RO) e Rogério Carvalho (PT-SE) sobre a possibilidade de quebra da patente de vacinas, o ministro afirmou ser contra essa proposta — que, segundo ele, pode prejudicar o programa de imunização. Na avaliação de Queiroga, o Brasil não conseguiria produzir vacinas da Pfizer e da Janssen.

Ciro Nogueira (PP-PI) contestou a afirmação Luiz Henrique Mandetta, ex-ministro da Saúde, de que o Brasil poderia ter começado a vacinação contra a covid-19 em novembro do ano passado. O senador lembrou que a primeira aplicação no mundo ocorreu em dezembro.

— Uma declaração que, no meu ponto de vista, não sei se é absurda, mentirosa, criminosa. Acho que a mais correta é: desleal — declarou Ciro Nogueira.

Imunidade de rebanho

Questionado pelo vice-presidente da CPI, Randolfe Rodrigues (Rede-AP), sobre a estratégia de tentar atingir a chamada “imunidade de rebanho”, Queiroga disse que o Ministério da Saúde defende a vacinação em massa como forma de imunização.

— Eu apoio a vacinação. Vacinação na população é a conduta do Ministério da Saúde — respondeu.

Durante a reunião, Humberto Costa (PT-PE) disse que a CPI precisa ouvir o vice-governador do Amazonas, Carlos Almeida Filho, que afirmou em entrevista que o governador Wilson Lima e o presidente Jair Bolsonaro transformaram Manaus em um laboratório gerador de nova cepa de covid-19. Segundo o senador, se confirmada a informação, estará provado que houve uma atitude criminosa do presidente.

—  A estratégia de imunidade natural ou imunidade de rebanho [sem vacinação] caracteriza crime com dolo eventual. Arriscou-se a provocar a tragédia que estamos vivendo hoje — disse Humberto.

China

Tasso Jereissati (PSDB-CE) apresentou requerimento para ouvir os representantes da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) para explicar a insinuação de Jair Bolsonaro, feita durante evento realizado ontem no Palácio do Planalto, de que a China teria promovido “guerra química”. Para o senador, trata-se de uma das declarações “mais graves” que um presidente poderia fazer e, que se for falsa, representa “um verdadeiro boicote na compra de vacinas da China”, principal fornecedor de imunizantes ao Brasil.

— Se a China está iniciando uma guerra não só contra o Brasil, mas contra o mundo inteiro, a fim de dominar o mundo, e os militares têm conhecimento disso, a agência de inteligência tem conhecimento disso, é gravíssimo. Mas, se não for, o estrago nas relações comerciais brasileiras vai ser gigantesco — avaliou Tasso.

Ao ser questionado sobre se a declaração é um “desserviço” ao esforço para conseguir insumos para vacinas, Queiroga ressaltou que não houve uma menção direta à China e afirmou que “a relação com o embaixador chinês é muito boa”.

— Eu espero que essas questões das relações entre Brasil e China continuem de maneira positiva e nós não tenhamos impacto — disse Queiroga ao defender o pragmatismo nas relações internacionais. Agência Senado (Reprodução autorizada mediante citação da Agência Senado)

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